Batuku e funaná: o que a música de Cabo Verde ganhou com a independência

Batuku e funaná são géneros musicais de Cabo Verde com grande vitalidade actualmente. São fruídos pelos cabo-verdianos em todas as ilhas, estão presentes no repertório de muitos artistas e fazem sucesso em concertos e pistas de dança, dentro e fora do país. Não teriam a projecção que têm se não fosse a independência. A dinâmica cultural que vem na esteira do novo poder instituído em 1975 cria condições para que estas duas expressões musicais, reprimidas ou menosprezadas durante o período colonial, passem a ser valorizadas. Até aí, as músicas reconhecidas como sendo as de Cabo Verde eram unicamente a morna e a coladeira. A partir da independência, batuku e funaná são retirados do âmbito restrito do seu meio de origem – o mundo rural da ilha de Santiago –, onde, para além dos próprios camponeses, interessavam no máximo a antropólogos, pela sua especificidade etnográfica. Tal como outros aspectos da vida em Cabo Verde que mudaram para melhor com a independência, também na música houve benefícios, pois passados 40 anos pode-se constatar que o país ganhou dois géneros musicais em pé de igualdade com os já anteriormente consagrados, morna e coladeira. Hoje, com um percurso rico em mudanças e recriações por vezes até controversas, são música de todos os cabo-verdianos.

Gláucia Nogueira, Universidade de Coimbr


 

Gláucia Nogueira, doutoranda em Patrimónios de Influência Portuguesa (Universidade de Coimbra), dedica-se a investigar as práticas musicais em Cabo Verde. Publicou “Batuku de Cabo Verde. Percurso Histórico-Musical”, resultado da sua dissertação no mestrado em Património e Desenvolvimento (Universidade de Cabo Verde), “O tempo de B.Léza. Documentos e Memórias” e “Notícias que fazem a História. A Música de Cabo Verde pela imprensa ao longo do Século XX”. Tem no prelo “Cabo Verde & a Música. Dicionário de Personagens”.