Com a deterioração da transição para a independência em Angola e a ausência de eleições, a legitimidade do regime instaurado pelo MPLA em 1975 é contestada. UNITA e FNLA proclamam um estado rival no Huambo, o qual entretanto teria vida curta. Pretende-se explorar os desdobramentos políticos em Angola nos anos que imediatamente precederam e sucederam a independência. Com o intuito deliberado de borrar esse marcador temporal, o propósito é explorar, segundo as perspectiva rivais, as continuidades discursivas em torno da ideia de um projeto nacional unívoco que deveria englobar um território heterogêneo – legado do estado colonial. Não é possível compreender o conflito civil que se iniciou já antes da independência sem remeter suas origens à luta anticolonial e à formação das elites regionais. Colocamo-nos a seguinte questão: quais foram as condições de possibilidade que levaram à progressiva legitimação do projeto nacional do MPLA, ao passo que aquele dos outros movimentos não se pôde firmar? Atentar-se-á à experiência da UNITA durante o período em que exerceu controle sobre o Planalto Central até 1976 e o posterior deslocamento para o leste, onde o movimento se iniciara. Argumenta-se que os desdobramentos dessa experiência remarcariam a polarização do conflito em torno da oposição cidade/mata que tem, em última análise, raízes nas diferentes vivências do colonialismo em Angola.
Ariel Rolim Oliveira, SOAS
Ariel Rolim é antropólogo na Universidade de São Paulo. Atualmente está filiado à School of Oriental and African Studies como pesquisador visitante para a finalização da tese. Vem realizando pesquisa sobre os processos políticos em Angola pós-colonial, em particular sobre a formação de diferentes imaginações nacionais concorrentes durante a guerra civil. Sua pesquisa atual parte de fontes documentais e trabalho de terreno e procura compreender as transformações discursivas durante pontos de inflexão chave do conflito.