Até o início dos anos 1960, em muitos casos as missões católicas eram a única presença visível da soberania portuguesa em grande parte dos vastos territórios coloniais. Com o início da Guerra Colonial o episcopado português condenou a possibilidade da existência de qualquer contestação católica à política africana do Estado Novo. Mas, no caso específico de Moçambique, esta contestação existiu desde que D. Sebastião Soares de Resende foi nomeado bispo da Beira (1943). Os recorrentes alertas sobre o erro e a injustiça da discriminação racial em vigor em Moçambique, bem como o desenvolvimento de ações pastorais de promoção e valorização das populações indígenas desenvolvida por D. Sebastião nunca foram bem aceites pelas concepções políticas então dominantes. Ainda assim, o exemplo de D. Sebastião seria seguido por D. Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula, e vários missionários católicos que driblaram e/ou enfrentaram a PIDE para denunciar os crimes cometidos pelas Forças Armadas contra a população civil em nome da manutenção da presença colonial. Procurando desafiar as leituras convencionais sobre as alianças estratégicas que apoiaram a construção do moderno Estado-nação moçambicano, nos propomos a resgatar do esquecimento a contribuição dada pelos missionários católicos para a conquista da independência de Moçambique.
Carolina Peixoto, CES-UC
Investigadora Jr. do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Doutora em Pós-colonialismos e cidadania global pela Universidade de Coimbra, Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense.