Aquivos por Autor: CEI IUL

Marcelo Caetano e a origem do exercício ALCORA. As desconfianças da África do Sul quanto ao futuro de Angola e de Moçambique

Em 7 de Outubro de 1970, tiveram lugar em Pretória conversações preliminares que viriam a culminar na formalização do Exercício ALCORA. Na minuta da delegação portuguesa, é enfatizada a “pressa” que os sul-africanos colocavam no prosseguimento das conversações. O que terá motivado aquela atitude é o objecto do nosso texto, que tem como objectivo determinar por que razão os sul-africanos passam de uma cooperação informal, evidente desde meados da década de 1950, para uma aliança formalizada ao mais alto nível. O nosso argumento enfatiza duas razões principais. Em primeiro lugar, os sul-africanos reconheceram que Portugal era incapaz de controlar as infiltrações da SWAPO e do MPLA no Sudoeste Africano a partir da Zâmbia. Em segundo lugar, a entrada de Caetano poderá ter deixado algumas dúvidas quanto à manutenção do esforço de guerra, razão pela qual pretendeu assumir a direção estratégica na África Austral antes que aquele encontrasse uma solução política pacífica sem seu envolvimento. A liderança política e militar sul-africana pretendia um arranjo político regional para manter o “reduto branco” isolado da subversão patrocinada pela URSS e pela China, em que o Exercício ALCORA seria o primeiro passo formal.

Luís Barroso, CEI-IUL


 

Luís Fernando Machado Barroso, tenente-coronel de Infantaria a desempenhar funções no QG da NATO na Holanda, é doutor em História, Defesa e Relações Internacionais pelo ISCTE-IUL. Desempenhou funções como professor no IESM, na Academia Militar e na Faculdade de Direito da UNL. É investigador no CEI do ISCTE-IUL.

“Corno de mulata dói mais que morte de mãe”

A primeira vez que ouvi esta expressão demorei alguns minutos a perceber o seu alcance. Ela confirmou, contudo, uma suspeita minha. As mulatas como objecto de desejo mas também como alvo de preconceito e desconfiança. Eu cresci em Luanda numa cidade marcada pelo ritmo do partido único, do recolher obrigatório e dos cartões de abastecimento. Não sei se por ser muito nova não me apercebi ou se por estarem todos muito ocupados a sobreviver não havia tempo para discutir o legado do colonialismo no que concerne à raça ou à classes sociais. Hoje a situação é bem diferente e a jovem nação angolana começa a expor as suas fragilidades, quer ao reiterar repetidamente a sua identidade quer na necessidade de tornar essa angolanidade pedagógica e prescritiva. Esta apresentação propõe-se, com recurso a notas pessoais e etnográficas, questionar o trajeto da construção da nação angolana e o projeto pós independência de construção da Nação Angolana, o ideal do “Homem Novo” e “Um só povo, Uma só nação” ambos enunciados no hino nacional de 1975. As notas pessoais surgem da análise da figura da mulata, figura que ao longo da história foi objecto de atração e repulsa mantendo um estatuto de alteridade e ambiguidade. Traremos para análise expressões populares do português de Luanda e outros elementos de cultura popular.

Suzana Sousa, ISCTE-IUL


 

Licenciada em Estudos Artísticos, variante Artes e Culturas Comparadas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestre em Estudos Culturais pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres. Doutoranda em Antropologia no ISCTE-IUL. Tenho desenvolvido pesquisa na área das políticas culturais e trabalhado como curadora e crítica de arte. Atualmente sou a curadora da sala de exposições temporárias do Pavilhão de Angola na ExpoMilano 2015 com o projecto Seeds of Memory.

A questão colonial em João Martins Pereira

São ainda raros os estudos sobre a geração de intelectuais que a partir de meados da década de 1960, de forma clandestina ou semilegal, acabaria por modernizar o discurso marxista em Portugal. Ao contrário do que sucede noutros países, existe em Portugal uma lacuna historiográfica no que concerne ao estudo do pensamento e da obra de intelectuais marxistas menos catalogáveis e desvinculados das ortodoxias dominantes, de fundo simultaneamente não-dogmático e radical. Propõe-se, portanto, com esta comunicação evidenciar o pensamento de João Martins Pereira – engenheiro, economista, ensaísta e ex-secretário de Estado da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório – no que diz respeito ao colonialismo português, nomeadamente em três períodos consecutivos: colonização, guerra colonial e descolonização. Esta apresentação centrar-se-á nos escritos do autor, não apenas durante os diferentes períodos históricos, mas também após os mesmos. Por fim, deve-se referir que esta comunicação, que se encontra ancorada à tese de doutoramento que o orador tem vindo a desenvolver e que tem por objeto o pensamento e a obra de João Martins Pereira, tem como fontes a obra do autor (nomeadamente crónicas, artigos, ensaios e livros) e a imprensa da época.

João Moreira, Universidade de Coimbra


 

Licenciado em Sociologia pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (2011), tem investigado desde 2011 a esquerda radical portuguesa, nomeadamente as tendências trotskistas durante os «longos anos 60». Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra é hoje doutorando em Altos Estudos em História pela mesma faculdade. Encontra-se a estudar o pensamento político de João Martins Pereira, tendo em vista a sua tese de doutoramento.

Uma aliança relegada ao esquecimento: o apoio dos missionários católicos à luta do povo moçambicano pela independência

Até o início dos anos 1960, em muitos casos as missões católicas eram a única presença visível da soberania portuguesa em grande parte dos vastos territórios coloniais. Com o início da Guerra Colonial o episcopado português condenou a possibilidade da existência de qualquer contestação católica à política africana do Estado Novo. Mas, no caso específico de Moçambique, esta contestação existiu desde que D. Sebastião Soares de Resende foi nomeado bispo da Beira (1943). Os recorrentes alertas sobre o erro e a injustiça da discriminação racial em vigor em Moçambique, bem como o desenvolvimento de ações pastorais de promoção e valorização das populações indígenas desenvolvida por D. Sebastião nunca foram bem aceites pelas concepções políticas então dominantes. Ainda assim, o exemplo de D. Sebastião seria seguido por D. Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula, e vários missionários católicos que driblaram e/ou enfrentaram a PIDE para denunciar os crimes cometidos pelas Forças Armadas contra a população civil em nome da manutenção da presença colonial. Procurando desafiar as leituras convencionais sobre as alianças estratégicas que apoiaram a construção do moderno Estado-nação moçambicano, nos propomos a resgatar do esquecimento a contribuição dada pelos missionários católicos para a conquista da independência de Moçambique.

Carolina Peixoto, CES-UC


 

Investigadora Jr. do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Doutora em Pós-colonialismos e cidadania global pela Universidade de Coimbra, Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense.

Mozambique: War and Peace. An Historical Perspective of the Muslim Communities’ Role

This text is incorporated in the Post-doctoral Project entitled “The Colonial Power and Islam’s impact in Mozambique, 1954-1974”, oriented by Professor Doctor Joana Pereira Leite on the CEsA/CSG/ISEG/UL, and developed under a FCT scholarship. Revisiting and cross-checking sources available in the archives, especially the Mozambique Historical Archive allow us to analyse the role of Muslim communities building a new nation. The confrontation of the material produced by the colonial authorities in reports of the civil administration, of the so-called native business between the Army and the Police and the independent movements, especially FRELIMO, suggest a clandestine operational network with initiatives of Mozambican identity affirmation under the designation of “subversive” in the colonial time. A fact worth noting: the “control” function of the Muslim communities, both in the colonial State apparatus and in the post-colonial times, thus reveals itself a phenomenon of continuity and helps us to understand the complexity of the colonial society and the war and peace phenomena, before and after the independence.

Olga Iglesias, IHC-FCSH/UNL


 

Since December 2009 is a researcher at CEsA/CSG/ ISEG/UL. Doctored in 2009 by FCSH/UNL with the thesis “The African Associative Movement in Mozambique. Tradition and Fight (1926-1962)” oriented by Fernando Rosas and Jill Rosemary Dias. Now at post-doc with a scholarship from FCT, is researching: “The colonial power and the impact of Islam in Mozambique. 1954-1974”, oriented by Joana Pereira Leite presenting the research progress at congresses and National and International reviews. Since October 2013 belongs to the IHC/FCSH/UNL.

Do nativismo, do protonacionalismo ao nacionalismo libertador: uma breve reflexão sobre processos, indivíduos e ideologias relevantes na constituição dos movimentos de libertação e para a independência em Moçambique

Nesta comunicação, por meio de uma análise sócio-histórica e diacrónica sobre os processos, pessoas e discursos que contribuíram direta e indiretamente para a independência moçambicana, pretendo refletir brevemente sobre três importantes personalidades que considero, emprestando o termo do passado, como “filhos da terra”, e suas influências para a constituição de um pensamento crítico e libertador em Moçambique no século XX: João Albasini (1876-1922), Eduardo Mondlane (1920-1949) e Samora Machel (1933-1986). Procuro perceber que ideologias e crenças fundamentaram, em cada época, algumas das correntes de pensamento que influenciaram as suas próprias inclinações político-filosóficas de caráter nacionalista, e que contribuíram também para encampar uma visão libertadora-anticolonial do projeto nacional em Moçambique. Realizando um rápido exame que vai do estágio inicial do colonialismo português de fato, à cessação deste modelo em 1975 em África, busco contribuir para uma maior reflexão sobre os veículos e sistemas ideológicos que foram fundamentais para pugnar uma cosmologia de mundo distinta daquela permitida pelo modelo colonial fascista. Para esse fim, utilizarei as obras de Mário Pinto de Andrade (1998), Aurélio Rocha (2006), Teresa Cruz e Silva (2001), Vladimir Zamparoni (1998), dentre outros.

Fabrício Rocha, CES-UC


 

Doutorando em Pós-colonialismo e Cidadania Global no CES-Coimbra. Mestrado em Antropologia Social e Cultural Pela Universidade de Coimbra. O campos de interesses estão também relacionados à composição dos movimentos nativistas e nacionalistas na África austral e à formação de identidades nacionais revolucionárias. Atualmente trabalha sobre questões em torno das ruturas e das reconstituições identitárias de minorias não-negras em Moçambique.