Complexidade, natureza e sentidos dos motins de Maputo (2008 e 2010)

Os violentos protestos populares ocorridos em Maputo e outras cidades moçambicanas) em 2008 e 2010 têm sido frequentemente referidos como motins económicos. Contudo, embora tivessem tido como flashpoint bruscos aumentos de preços, as suas motivações e os sentidos que projetam e que lhes são atribuídos pelos seus atores são de caracter eminentemente político. Tomando em conta as perspetivas das populações envolvidas, verifica-se que as motivações e dinâmicas dos chamados motins de Maputo derivam da complexa interacção entre múltiplos factores, num quadro geral de precariedade de condições e perspectivas de vida, afectando a maioria da população. Destacam-se, entre esses factores em interação, (1) a avaliação de um incumprimento estatal daquilo que é, na visão popular local, o “contrato social”; (2) a inexistência de instrumentos institucionais ou informais de canalização do desagrado e protesto para com decisões governativas; (3) o desconforto popular com a ostentação da riqueza e a sua irrelevância aos olhos dos poderosos; (4) a ausência de alternativas pacíficas de expressão política; (5) uma cultura de poder autocrática e arrogante; (6) traços de indigenização do “povo” por parte das elites político-económicas; (7) as relações de dependência internacionais; (8) os confrontos partidários e eleitorais. Vários desses aspectos são fulcrais nas dificuldades de transição política.Watch Full Movie Online Streaming Online and Download

Paulo Granjo, ICS-UL


Paulo Granjo é doutorado em antropologia e investigador do ICS-UL. Foi de 1999 a 2006 professor visitante na UEM, Moçambique, país onde tem pesquisado, desde 2002, o trabalho industrial e apropriações do perigo laboral, o lobolo e relações familiares, as práticas de adivinhação e cura, as representações sobre gémeos e albinos, os linchamentos e violência pública. Estuda atualmente o impacto local dos megaprojetos extrativos. Autor de 8 livros e dezenas de artigos, fot galardoado com o Prémio Sedas Nunes 2007 e é sócio honorário da AMETRAMO.